Desfiar <i>itens</i>

Henrique Custódio

A agência de no­tação fi­nan­ceira Stan­dard & Poor´s, a mesma que há meses previa o di­lúvio se o sa­lário mí­nimo au­men­tasse em Por­tugal, veio dizer na se­mana pas­sada que os «au­mentos con­se­cu­tivos» do sa­lário mí­nimo não pre­ju­di­caram a com­pe­ti­ti­vi­dade da eco­nomia por­tu­guesa.

Este é o pri­meiro item a des­fiar hoje.

O se­gundo é o si­lêncio se­pul­cral sobre a ma­téria por parte dos lí­deres da CIP e da CCP, que também há uns meses ca­val­gavam as de­cla­ra­ções da agência para ga­rantir, es­far­ra­pando as vestes, que «era im­pos­sível aos pa­trões» aguen­tarem «tantos au­mentos do sa­lário mí­nimo». Ig­no­rantes e in­cultos na sua mai­oria, os pa­trões por­tu­gueses con­ti­nuam a fun­ci­onar como o mer­ce­eiro que de­mo­lhava o ba­ca­lhau e de­se­qui­li­brava a ba­lança para sacar o que não lhe era de­vido.

E diz o PS que «é na con­cer­tação so­cial» – onde estão ins­ta­lados estes vi­vaços – que se «ne­go­ceia» a con­tra­tação la­boral e se de­fende «os in­te­resses dos tra­ba­lha­dores», la­vando daí as mãos... para pôr nas mãos dos re­pre­sen­tantes do pa­tro­nato o des­tino da con­tra­tação co­lec­tiva que, como «Go­verno de es­querda» de que se gaba ser, lhe com­petia repor, anu­lando na vo­tação da AR da se­mana pas­sada o es­quar­te­ja­mento pra­ti­cado na con­tra­tação pelo go­verno de Passos Co­elho.

O PS pre­feriu es­quar­tejar o seu «cré­dito de es­querda» e servir os in­te­resses da di­reita. Como de cos­tume.

O ter­ceiro item que se desfia neste no­velo diz res­peito ao de re­pente fa­moso Fe­li­ciano Bar­reiras Du­arte, que Rui Rio con­vidou para se­cre­tário-geral do PSD e se viu a des­co­brir que o seu es­co­lhido tinha mar­te­lado o cur­rí­culo, fa­zendo constar uma pre­sença na Uni­ver­si­dade de Ber­keley onde nunca pu­sera os pés e mais uns de­lí­rios do gé­nero, que pre­su­mível e pres­ti­mo­sa­mente fontes in­ternas do PSD têm vindo a for­necer, le­vando Rio a en­golir a seco o seu fa­moso «banho de ética» que iria mi­nis­trar e pôr-se, in­co­mo­da­mente, à es­pera que Bar­reiras Du­arte se de­mi­tisse do cargo para que o no­meou – e do qual anda ou andou es­con­dido, ao que pa­rece.

O as­sunto tornou-se ra­pi­da­mente no­vela e, pelo meio, surgiu o nome de Mi­guel Relvas, esse homem fatal, que teria sido chefe go­ver­na­mental de Bar­reiras Du­arte nos tempos de go­ver­nação pas­sista, o que de­veria ter posto de so­bre­a­viso um homem tão li­gado à ética, como Rui Rio.

O quarto item re­fere-se ao re­curso de fi­guras hoje pú­blicas à for­mação aca­dé­mica em uni­ver­si­dades pri­vadas, con­fluindo ten­den­ci­al­mente para o es­cân­dalo.

O que abre um quinto item: es­tudar a sério dá um bo­cado de tra­balho, mas não dá cha­tices.

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ER­RATA: Na cró­nica «Cortes de La­mego» da se­mana pas­sada e por lapso, esta ci­dade beirã veio er­ra­da­mente iden­ti­fi­cada como «trans­mon­tana». Por este erro, as nossas des­culpas aos lei­tores e à ci­dade de La­mego.




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